Cerca de 20 tripulantes do navio de cruzeiros MSC Armonia se demitiram na tarde da última segunda-feira, durante a escala da embarcação no Porto de Santos. Eles desembarcaram na Cidade.
A decisão foi tomada, segundo os ex-funcionários, principalmente por conta do “descaso” da operadora com empregados doentes a bordo. Muitos apresentavam sintomas de gripe, como tosse e coriza, semelhantes aos da garçonete Fabiana Pasquarelli. Ela começou a passar mal no último dia 13, foi hospitalizada com um quadro de insuficiência respiratória 48 horas depois, em Santos, e faleceu na madrugada do dia 18.
Exames preliminares indicaram que a moça tinha o vírus da Influenza B, o mesmo que provoca a gripe comum. A causa da morte ainda é investigada.
Diante da situação, o Armonia passou por inspeções sanitárias na Argentina e no Uruguai, onde escalou durante seu cruzeiro de Carnaval, de nove noites. A última fiscalização aconteceu na última segunda-feira. Foi feita por uma equipe da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), quando o navio retornou ao complexo santista. A operação da Anvisa durou mais de 10 horas e a embarcação acabou sendo liberada para mais uma viagem apenas por volta das 22h30. O Armonia seguiu para um minicruzeiro de quatro noites, com escalas em Búzios (RJ) e Ilhabela (SP).
Apesar de a Anvisa ter decidido liberar o navio por não apresentar riscos, muitos tripulantes ficaram com medo e preferiram não retornar ao Armonia. Insatisfeitos com o tratamento oferecido pela MSC aos funcionários doentes, eles encerraram a vida a bordo no Porto de Santos.
“Fui obrigado a desistir de um objetivo que eu tinha, mas faz parte. Saí com dor no coração, pois estava adorando. Fiquei com medo de ficar doente a bordo e não ter assistência. O atendimento não parecia que estava sendo feito corretamente. Todo mundo estava ficando contaminado”, disse um dos tripulantes, de 21 anos, que preferiu não se identificar. Ele deixou o navio às 18 horas da última segunda-feira.
O rapaz foi um dos funcionários que manteve contato com A Tribuna enquanto ainda estava na embarcação. Durante toda a viagem de Carnaval, ele se mostrou preocupado com o número de pessoas com sintomas de gripe e chegou a pedir ajuda por uma rede social.
Agora em casa, o ex-tripulante ainda não sabe se voltará a trabalhar em navios. “Vou pensar nisso mais pra frente. Por enquanto, não tenho interesse em retornar”, afirmou o rapaz, que, antes do Armonia, trabalhou em um navio do Grupo Costa por oito meses.
Outro que rompeu contrato com a MSC Cruzeiros foi Evídio Vasconcelos, de 22 anos, que atuava como garçom no Armonia. Ele desembarcou com outros três rapazes que também trabalhavam no bar e, até ontem, permaneciam hospedados em sua casa. “A situação lá dentro era a mesma. Era só questão de tempo para eu ficar doente. Ia chegar a minha vez. E nada estava sendo feito pela MSC. Não tomavam nenhuma providência”, afirmou o jovem, que já havia cumprido um contrato em outro navio da operadora, o MSC Musica.
Vasconcelos afirmou que, quando saiu do navio, outros tripulantes estavam doentes. De acordo com o posto portuário da Anvisa em Santos, seis funcionários com sintomas de gripe continuaram a bordo e ficariam isolados em suas cabines durante a viagem. “Muitos nem contam para o chefe que não estão bem, falam que é apenas um resfriado, pois não querem deixar o navio. Eles precisam do dinheiro”, revelou o ex-funcionário do Armonia, que garantiu não ter intenção de voltar para a MSC, caso decida retomar a vida a bordo.
“Quero ir para uma empresa americana melhor. Para mim, não era novidade o tratamento ruim oferecido aos tripulantes. Mas, enquanto não me tratavam mal, eu não me incomodava. A minha ideia era juntar dinheiro, mas fui obrigado a interromper esse objetivo”, disse o tripulante.
MSC Cruzeiros
Questionada sobre os pedidos de demissão dos tripulantes, a MSC informou, por meio de nota divulgada na noite de ontem, que tomou conhecimento “dessas alegações” “com supresa”. E repudiou “ as informações injustificadas apresentadas pelo suposto tripulante. Quaisquer informações sobre falta de atendimento, atenção ou orientação são falsas e tem cunho exclusivamente especulativo”.
A operadora destacou que “acompanha e monitora todas as situações e trabalha em conjunto com as autoridades locais de cada país onde atua, prestando todo o atendimento e suporte necessários para seus tripulantes. Além disso, a informação não está deacordo com os levantamentos e inspeções das autoridades sanitárias públicas realizadas a bordo, bem como os procedimentos internos da MSC,e das organizações mundiais que regulam o setor”.
De acordo com a empresa, a bordo de um navio de cruzeiros, “de complexas tarefas e exigência competitiva, onde os tripulantes convivem com as mais diferentes nacionalidades e culturas, longe de suas famílias, é natural que um pequeno número de pessoas não se identifique com determinada
Fonte : A Tribuna
Imagem : Ana Caroline Carbone Funi
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